Um risco no céu,
Uma estrela traçante
Um sinal, um levante
Do amor contra o mal
Eu vi num jornal
A foto estampada
A tarja nos olhos
De um anjo caído
Eu vi na janela
De um apartamento
O início do fim
De quem nunca sentiu
De quem nunca sonhou
E nem mesmo sabia
Que as mãos que um dia
Em breve acalanto
Embalaram seu sono
aplacaram sua dor,
Lançariam seu corpo
Pro derradeiro abismo
Pro derradeiro vôo, sem pai e sem mãe
sem herói ou boneca, sem bola ou peteca
encerrando planos de infância e adolescência
apagando sorrisos, sonhos e encantamentos
Calou-se o seu pranto
Seu sonho menino
diante do horror,
De mentes febris.
No alto da serra
Um mundo distante
Onde se entrelaçam
Tristeza e dor
Onde um tipo de amor que castiga e consola
conforta e mata, protege e maltrata
onde o céu e o inferno se encontram, se fundem
onde a vida flutua sem som e sem cor
no asfalto demente onde gira o progresso
onde os carros circulam entre festa e agonia
os homens se matam por vício e ganância
num processo macabro, sem paixão, sem magia
mas, quem sabe um dia, ou numa noite dessas
as rodas da vida num gesto arbitrário
num sinal de protesto, circulem ao contrário
no sentido anti-horário, de encontro à paz
Um risco no céu,
Uma estrela traçante
Um sinal, um levante
Do amor contra o mal.
VFC-22/07/2010
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